terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Felicidade é disciplina



Ninguém paga uma das melhores escolas do mundo para ter aulas de auto-ajuda, certo? Como explicar, então, que Tal Ben-Shahar, um psicólogo israelense de 37 anos, tenha se tornado o professor mais popular de Harvard, atraindo para o seu curso de Psicologia Positiva mais alunos do que Introdução à Economia, que foi por décadas a aula mais freqüentada da famosa universidade de Boston?


"Os estudantes são atraídos à minha aula porque sentem que faz diferença na vida deles", explica o próprio Shahar. Essencialmente, ele ensina 1,4 mil estudantes por semestre a serem mais felizes.

O curso inclui tarefas convencionais, como leituras e provas, mas seu diferencial é o estímulo para que os alunos apliquem as teorias ao próprio bem-estar. Durante as aulas de 90 minutos, dois dias por semana, eles meditam e são estimulados a registrar as coisas pelas quais "deveriam ser gratos".

O objetivo é desenvolver uma percepção otimista da existência, e os alunos, na casa dos 20, invariavelmente deixam a aula sorrindo. Auto-ajuda? "Os livros de auto-ajuda prometem demais e entregam muito pouco", diz Shahar. "As idéias e práticas que passam pelo crivo da academia têm muito mais consistência."

Quando os alunos de uma das universidades mais competitivas do mundo preferem aulas de felicidade às de economia, e quando se sabe que essas mesmas aulas proliferam em mais de 100 escolas superiores dos Estados Unidos, o que isso nos diz sobre o futuro dos executivos? Talvez muito.

A chamada geração Y, nascida depois de 1980, parece determinada a ser intimamente feliz - mais do que apenas bem-sucedida pelos padrões socioeconômicos de seus pais. Menos horas de trabalho, menor disposição para sacrifícios familiares e ênfase na realização pessoal em detrimento da riqueza estão na agenda. "Na minha aula, não se subestima a importância do sucesso ou da ambição", diz Shahar. "Eu só ajudo as pessoas a identificar as áreas nas quais desejam concentrar seus esforços."

Casado com a namoradinha do colégio e pai de três filhos, Shahar chegou à psicologia procurando respostas para a própria insatisfação juvenil. Diz que funcionou, embora relute em se declarar uma pesssoa feliz.

Durante seu curso, afirma, alguns alunos decidem mudar o foco profissional dos bancos de investimento para o trabalho social - enquanto outros fazem o contrário. Não há uma regra anticapitalista. Mas todos carregam para a vida profissional uma mensagem ausente no currículo das gerações anteriores: a de que ser feliz é um fim em sim mesmo, que deve ser tenazmente perseguido.

Isso tem conseqüências para as empresas? "A felicidade e o bem-estar dos empregados tornaram-se ainda mais importantes para o sucesso das companhias", diz Shahar. Isso sempre foi verdade. Agora, pode ter se tornado prioridade.

DICAS DO GURU

Seis conselhos de Ben-Shahar que não vão mudar sua vida, mas podem ajudar um bocado

1- Dê-se permissão para ser humano. Ao aceitarmos as emoções - como medo, tristeza e ansiedade - como naturais, fica mais fácil superá-las. Rejeitar nossas emoções, positivas ou negativas, leva à frustração e infelicidade.

2- A felicidade encontra-se na intersecção entre o prazer e a relevância. Seja no trabalho ou em casa, o objetivo é envolver-se em atividades que tenham significado pessoal e que sejam prazerosas. Quando isso não for possível, assegure-se de obter alguma felicidade pessoal ao longo da semana, em momentos que forneçam prazer e relevância.

3- Tenha em mente que felicidade depende, sobretudo, do nosso estado de espírito, não do nosso status ou do tamanho da nossa conta bancária. Exceto por circunstâncias extremas, nosso nível de bem-estar é determinado por aquilo em que escolhemos nos focar (a parte cheia ou vazia do copo) e pela nossa interpretação de eventos externos. Por exemplo, nós vemos as nossas falhas como catástrofes ou as tomamos como oportunidades de aprender?

4- Simplifique. Em geral, tentamos espremer mais e mais atividades em um tempo cada vez menor. Quantidade influencia qualidade, e nós comprometemos a nossa felicidade tentando fazer demais.

5- Lembre da conexão entre mente e corpo. O que fazemos - ou não fazemos - com nosso corpo influencia nossa mente. Exercícios regulares, sono adequado e hábitos de alimentação saudáveis conduzem à saúde física e mental.

6- Expresse gratidão sempre que possível. Freqüentemente não damos o devido valor às coisas que nos rodeiam. Aprenda a apreciar e saborear as coisas maravilhosas da vida, das pessoas à comida, da natureza aos sorrisos.

fonte: Época Negócios

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