quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Bússola que só aponta para baixo


Crítica do filme 'A Bússola de Ouro'

Antes de você assistir a “A Bússola de Ouro”, é importante saber em que tipo de terreno está pisando. E, no caso, é um terreno de lodo puro. O filme é baseado no primeiro livro da trilogia escrita pelo ateu radical Phillip Pullman (foto). Em uma entrevista em 2001, o escritor afirmou com todas as letras: ”Meus livros são sobre matar Deus”. Crítico ferrenho do cristianismo, fã confesso da série “Harry Potter” e refratário à série cristã ”As Crônicas de Nárnia” (”uma das coisas mais feias e venenosas que já li”), Pullman definiu sua própria trilogia como ”os materiais sombrios”, escrita para ser uma influência atéia oposta a ”Nárnia” e ”O Senhor dos Anéis”. ”Tento destruir os alicerces da fé cristã”, confessou sem pudores Pullman.

O filme conta a história de uma menina, Lyra, que viaja a um mundo distante para salvar um amigo. No caminho, encontra criaturas metamorfas, bruxas e uma série de personagens de um universo fantástico. Lyra é acompanhada por um ”daemon”, sua alma em forma de um animal. Ao adaptar “A Bússola de Ouro” para as telas, o diretor Chris Weitz buscou suprimir muitas das referências ateístas e anticristãs da trama, para não perder o dinheiro do ingresso dos crentes. Ele afirmou que o filme não faria, ao contrário do livro, menção direta a Deus ou a religião - dois temas-chave do livro. Como os fãs dos livros reclamaram, Weitz confessou: ”bem, a religião está lá, mas mascarada por eufemismos”. Falaremos mais sobre isso adiante.

Não há dúvidas sobre os aspectos técnicos do longa-metragem. A computação gráfica cria cenários e personagens fantásticos, junto com um figurino de extremo bom gosto. É fácil se deixar encantar por esse visual de fantasia. Os atores - entre eles Nicole Kidman (foto) e o 007 Daniel Craig, repetindo a dobradinha de ”Invasores” - não chegam a impressionar, mas mostram competência em suas atuações. Até mesmo as crianças estão bem em seus papéis. Fora das cenas de ação, a trama é arrastada, chegando à beira
do tédio em certos momentos.

O filme é violento. Violento demais para menores de idade - apesar de ser promovido como uma obra voltada para o público infanto-juvenil. Lyra, a heroína da história, tenta matar a própria mãe! Não bastasse isso, muitas cenas são incomodamente explícitas, como a luta entre dois ursos em que um arranca a mandíbula do outro. Muitos personagens são assassinados, há tiroteios, lutas de espada, bruxas flecham seus adversários… é uma festa sangrenta. Bruxas, aliás, são fundamentais na história, bem como demônios. E o inferno é mencionado como um lugar literal.

Sob a capa de beleza, fantasia e aventura, a produção carrega mensagens anti-religiosas, mascaradas por termos aparentemente inocentes. Não se usa, por exemplo, a palavra ”Igreja”, mas sim ”Magisterium”. ”Deus” é chamado de ”a Autoridade”. E, sim, Deus é morto no fim da trama. No mundo criado pela trilogia de Pullman, o Magisterium está ligado a experimentos cruéis com crianças, visando a descobrir a natureza do pecado, além de tentativas de acobertar fatos que prejudicariam sua legitimidade e seu poder.

Lyra, a heroína que as meninas vão querer imitar após ver o filme, não apenas tenta matar a mãe, mas é manipuladora e enganadora. Ao pôr em prática seus esquemas, ela sempre se dá bem - e é aplaudida por isso.

O grande perigo do filme é promover o livro, cujo conteúdo ateu, anticristão e - estava tentando evitar essa palavra para não assustar os leitores que não são cristãos, mas, sinceramente, não dá - diabólico constrói na mente de quem o lê uma imagem irreal de Deus. Assusta pensar nas legiões de crianças e adolescentes que vão correr às livrarias para comprar “A Bússola de Ouro” após ver o filme, do mesmo modo que fizeram com a série ”Harry Potter”. Hoje mesmo passei por uma livraria e vi o livro lá, na prateleira mais próxima da porta, como uma isca à espera do primeiro incauto que, incentivado pelo burburinho em torno do longa-metragem, vai se enredar em suas páginas.

Graças a Deus (literalmente?), “A Bússola de Ouro” foi um fiasco nas bilheterias americanas. No fim de semana de estréia, arrecadou apenas US$ 25,7 milhões em ingressos, enquanto os produtores esperavam faturar entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões. Até 18 de dezembro, o filme, que cusou US$ 180 milhões, faturou apenas US 40 milhões, um fracasso de proporções bíblicas para os padrões americanos.

O Vaticano condenou o filme, dizendo que ele promove a idéia de um mundo frio, sem Deus e caracterizado pela desesperança. Num editorial longo, o jornal do Vaticano l’Osservatore Romano também fez duras críticas a Philip Pullman. Foi a crítica mais dura feita pelo Vaticano a um autor e um filme desde a condenação que fez de “O Código Da Vinci”, em 2005 e 2006. “No mundo de Pullman a esperança simplesmente não existe, porque não existe salvação senão na capacidade pessoal e individualista de controlar a situação e dominar os acontecimentos”, disse o editorial. O jornal do Vaticano disse que os espectadores honestos vão constatar que o filme é “destituído de qualquer emoção em especial, além de uma grande frieza”. Grupos católicos nos EUA pediram o boicote ao filme, e a Liga Católica dos EUA exortou os cristãos a não assistirem ao filme, dizendo que seu objetivo é “prejudicar o cristianismo e promover o ateísmo” entre as crianças.

Pullman criou o universo de “A Bússola de Ouro” para fazer oposição aos mundos de Tolkien e C. S. Lewis. Mas a jornada épica de Lyra a um mundo em que agentes teocráticos seqüestram e torturam crianças é destituída de alegria e de filosofias edificantes, o que cria um abismo entre ”Crônicas de Nárnia” e ”O Senhor dos Anéis” e esta bússola que só aponta para baixo. Apesar de ser vendido como um longa-metragem esplendoroso, mantém-se em trevas, especialmente nas trevas da mentira espiritual.

Maurício Zágari Tupinambá

Fonte: CINEGOSPEL

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