sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Eu sou a lenda



Lembraremos da mensagem ou da adrenalina?

Será que um filme sobre zumbis comedores de gente pode ter alguma utilidade positiva além de fazer o sangue circular mais rápido? Por incrível que pareça, ”Eu sou a lenda” prova que sim. Nessa adaptação de um livro de 1954, Will Smith interpreta o cientista Robert Neville, a única pessoa imune a um vírus que transformou toda a raça humana em mortos-vivos antropófagos. E como ele aparentemente é o último homem sobre a Terra, Neville é o petisco mais cobiçado pelos monstrengos. A luta para continuar vivo enquanto combate os zumbis, a solidão, a desesperança e o desespero dão a tônica ao filme.

O tal vírus é fruto de um erro humano: na tentativa de desenvolver uma vacina contra todas doenças letais, pesquisadores acabam criando o microorganismo maligno. Isso gera reflexões interessantes sobre até onde a criatura pode interferir na obra do Criador. Que, aliás, é lembrado em diversos momentos da história. Quando a família de Neville entra em um helicóptero, por exemplo, todos oram a Deus em conjunto.

Mas a presença de Deus em “Eu sou a lenda” é apresentada de modo bem mais sofisticado do que simplesmente nessa referência. Os conceitos de fé e sacrifício redentor são, ao final, o cerne da história. Neville tipifica uma figura messiânica, o único que pode salvar toda a humanidade, consumida e distorcida por um mal que transforma todos em seres malignos - metaforicamente, o pecado. A luta do cientista para alcançar seus objetivos demora três anos e exige, literalmente, o derramamento de seu próprio sangue. Uma imagem que pode servir para os jovens como uma ilustração futurista do sacrifício de Jesus.

Em certo momento, alguém diz ao herói: ”Foi a vontade de Deus que nos encontrássemos. Se escutarmos, podemos ouvir o plano de Deus”. Ao que o abalado Neville responde: ”Não há Deus! Não há Deus!”. Epa! Mas calma, quando a situação parece que não pode ficar pior, ele muda de idéia. A ponto de dizer a certa altura: ”Deus não fez isso, nós fizemos”. E fica claro que ele estava sendo usado pelo Senhor para ajudar a humanidade.

Tecnicamente, “Eu sou a lenda” é fantástico. Os especialistas em computação gráfica conseguiram transformar Nova York numa cidade mais ao estilo “Mad Max”, inóspita e apocalítica, do que a simplesmente deserta Londres de ”Extermínio”, filme de zumbis que segue a mesma linha. A transformação das pessoas em mortos-vivos é outro primor. E a interpretação de Will Smith não deixa nada a desejar aos seus melhores filmes de ação, como ”Eu, robô”, ”Independence Day” e ”Homens de Preto”. Smith tem sempre a capacidade de criar personagens cheios de estamina, que todos gostaríamos de ter como irmãos mais velhos.

Mas que ninguém se engane: como todo filme de zumbis, há muita violência e carnificina. Algumas cenas são de uma tensão atroz e, no todo, “Eu sou a lenda” é um longa-metragem bem assustador, o que o desqualifica para crianças e pessoas sensíveis ou cardíacas. A questão que permanece é que a adrenalina é tão elevada que provavelmente as reflexões filosóficas e messiânicas do filme podem passar despercebidas do grande público. Tomara que ”Eu sou a lenda” provoque mais do que um aglomerado de sustos e gritos: torcemos para que leve o público a uma reflexão sobre o mal que consome a humanidade e o único redentor capaz de salvá-la. Senão, este será apenas mais um entre tantos filmes de zumbis comilões.

Maurício Zágari Tupinambá

Fonte: CINEGOSPEL

Veja o trailer clicando abaixo:


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