quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Contribuir financeiramente: uma graça que poucos desejam



Nós aprendemos desde cedo que a graça é favor imerecido. É algo que está para além das posses de nossas virtudes. Justamente por essa razão a graça é de graça.

No entanto, na nossa idéia do que seja graça, enquadram-se apenas as felizes, fáceis saborosas e carismáticas manifestações das bênçãos de Deus sobre nós (Ef. 1:3). Nunca pensamos em graça como privilégio de sofrer.

Todavia, também esta dimensão está presente na teologia do conceito de graça:

“Por que vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente crerdes nele...” (Fp. 1:29).

Além da graça de sofrer, há ainda uma outra graça indesejável – aliás, bem poucos a vêm como graça, como privilégio, como favor imerecido. Trata-se da graça de contribuir.

Percebe-se a contribuição como graça, mais do que qualquer outra ocasião, quando Paulo faz conhecer a igreja de Corinto a atitude generosa e pródiga de amor que permeara o gesto da igreja da Macedônia, quando se solidarizou com a comunidade cristã da Judéia – que passava um gravíssimo período de pobreza e fome – enviando-lhe ainda que sem condições ideais para tal oferta de amor.

Os irmãos da Macedônia não se sentiam dignos de contribuir, de participar da obra de Deus. Por isso, pediam que essa possibilidade lhes fosse criada, ainda que numa expressão de graça, de favor imerecido.

O gesto macedônio inspirou Paulo a enviar Tito a Corinto a fim de promover a mesma compreensão, desencadeadora da mesma atitude:

“O que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós” (II Cor. 8:6).

Aliás, nada se podia esperar de uma igreja que se julgava madura como a de Corinto – crendo que estava superabundando em fé, teologia, sabedoria e serviço social – senão algo, no mínimo, semelhante à consciência dos irmãos macedônios. Por essa razão Paulo lhes diz: “Assim também abundeis nesta graça” (II Cor. 8:7). De fato, o que se define de modo irrefutável neste intróito do apóstolo à questão da contribuição, é que ofertar para a obra do Senhor é um favor que nenhum de nós merece. É graça.

Nossa contribuição é uma concessão de Deus. A santidade absoluta de Deus, se praticada sobre nós, não nos permitiria “nem contribuir”; mas na sua graça, Ele santifica nosso dinheiro, quando a grande motivação que nos leva a adquiri-lo é poder viver com dignidade e promover a causa do reino de Deus. Se não for essa a propulsão secreta de nossos corações, a nossa contribuição não passará de uma abominação. De uma atitude semelhante a aquela que norteou a oferta de Caim (Gn. 4:1-7; Jd. 11).

Nossa oferta ao Senhor não é de fato uma oferta de Deus. É, antes de tudo, uma oferta de Deus a nós. Quem oferta a Deus, oferta a si mesmo, na medida em que dar, antes de ser uma graça de nós a outros, é uma graça de Deus a nós. Se alguém se comove a dar, humilde e alegremente, é porque já foi tocado pela graça de Deus (Rm. 7:18; Fp. 2:13).

Mas quantos querem essa graça? Você a quer? Você deseja a bênção de contribuir? De devolver o que é de Deus na direção da causa de Deus?

A maioria das pessoas que eu conheço contribui ainda com medo de Deus. Ou então o faz na estreita medida do dízimo. Por que Malaquias chama de ladrão aquele que não contribui, então resolve quitar seu carnê do Reino (Ml. 3: 8 e 9). Todavia, essas pessoas fazem isso com o mesmo sentido de obrigatoriedade com o qual pagam a conta de luz, a água ou aluguel do apartamento. Não lhes move o coração o temor do Senhor. Não se sentem comovidos pela graça. Não percebem que não teriam direito a meter a mão no bolso para dar a tão santa causa.

Você deseja a graça de contribuir?

Quem apenas dá o dízimo ou se deixa motivar a contribuir pelos mesmos sentimentos daqueles que liquidam uma conta para não terem o nome no S.P.C., ainda não passou da Velha Aliança para a Nova, ainda não pensa como cristão, mas raciocina com legalista judeu.

O Novo Testamento vai além do Velho Testamento também na questão do dar. Em Cristo, o dízimo não é a mensalidade dos crentes na sociedade religiosa da igreja ou no filantropo clube da fé. No novo testamento, o dízimo é uma quantia de referência mínima para estabelecer o piso de nossas contribuições, entendidas não como cobrança, mas como graça, como privilégio.

PRINCÍPIOS DE CONTRIBUIÇÃO

1. A boa situação financeira não deve ser pré-requisito para alguém contribuir.

“Porque em meio de muita tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (II Cor. 8:2).

2. Alegria, generosidade, voluntariedade e boa-vontade são motivações indispensáveis a quem quer contribuir.

“Porque eles... na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários...” (3).

3. A contribuição deve ser extra-ordinária e não ordinária.

“A profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza” (2b).

4. A contribuição deve ser uma extensão do compromisso que se tem com o louvor a Deus, com a maturidade espiritual e com a propagação do Reino de Deus.

“Não somente fizeram como nós esperávamos, mas deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus” (8:5).

“Como, porém, em tudo manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra, como no saber e em todo cuidado e em nosso amor para convosco assim também abundeis nesta graça” (8:7).

Completai agora a obra começada, para que, assim como revelastes prontidão no querer, assim as leveis a termo, segundo as vossas posses.” (8:10 e 11).

5. A contribuição tem que ter fins, meios e motivos.

“a assistência aos santos” (4c).

“Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor” (II Cor. 8:8).

“Deus (…) pôs no coração de Tito (…) solicitude por amor de vós; porque atendeu ao nosso apelo e mostrando-se cuidadoso, partiu voluntariamente para vós outros…

E não somente isto, mas foi (…) eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça… desta generosa dádiva administrada por nós, pois o que nos preocupa é procedermos honestamente” (II Cor. 8:16-21).

6. A contribuição só é efetiva mediante diligência, presteza e zelo.

“provar pela diligência de outros” (II Cor.8:8).

“Por que bem conheço a vossa presteza, da qual me glorio junto aos macedônios, dizendo que a Acaia está preparada desde o ano passado…” (II Cor.9:2a).

“o vosso zelo (nas contribuições) tem estimulado a muitíssimos” (II Cor. 9:2b).

7. A contribuição tem que ser feita ainda que ela signifique um auto-empobrecimento.

“pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos” (II Cor.8:9).

“Melhor é o pouco havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro, onde há inquietação” (Pv. 15:16)

“Melhor é o pouco havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça” (Pv. 16:8).

8. A contribuição deve ser o resultado da compreensão de que no ciclo da solidariedade toda abundância é dada para suprir a pobreza.

“Por que não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga, mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância no presente a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha suprir a vossa falta, e assim haja igualdade, como está escrito: o que muito colheu, não teve demais, e o que pouco, não teve falta” (II Cor. 8:13-15).

9. As contribuições para a obra de Deus devem ser criteriosamente administradas e abertas a auditorias cristãs.

“E com ele (Tito) enviamos o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas. E não só isso, mas foi também eleito pelas igrejas pra ser nosso companheiro no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor, e para mostrar a nossa boa vontade; evitando assim que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós, pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não somente perante o Senhor, como também diante dos homens” (II Cor. 8:18-21).

10. O espírito de contribuição deve estar alerta em todos os crentes afim de que não haja necessitados despercebidos.

“Enviei os irmãos (Tito e Silvano), para que nosso louvor a vosso respeito, neste particular, não se desminta, afim de que, como venho dizendo, estivésseis preparados, para que, caso os macedônios vão comigo e vos encontrem desapercebidos não fiquemos nós envergonhados (para não dizer vós) quanto a essa confiança. Portanto julguei conveniente recomendar aos irmãos que me precedessem entre vós, e preparassem de antemão a vossa dádiva já anunciada, para que esteja pronta como expressão de generosidade, não de avareza” (II Cor. 9:3-5).

11. A contribuição alegre e voluntária é desencadeadora de um ciclo de bênçãos.

“E isto afirmo: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará, e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama à quem dá com alegria. Deus pode fazê-los abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.
Ora, aquele que dá semente ao que semeia, e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira, e multiplicará os frutos da vossa justiça; enriquecendo-vos em tudo para toda a generosidade, a qual faz que por nosso intermédio sejam tributadas graças a Deus” (II Cor. 9: 6 a 11).

12. A contribuição gera um processo de um louvor que se retro-alimenta indefinidamente.

“Por que o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante da graça de Deus que há em vós” (II Cor. 9:12-14).

13. A contribuição financeira é a resposta material à compreensão de que se recebeu o dom inefável: Jesus.

Graças a Deus pelo dom inefável” (II Cor. 9:15).

“Seja o mundo seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as coisas futuras, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” (I Cor. 3:22).

“Tenho-vos mostrado em tudo que trabalhando assim, é mister socorrer aos necessitados, e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). “

Quem são os poucos que desejam a graça de contribuir? Você é um deles?

Caio Fábio

Síntese do texto escrito na Holanda, em 1986, durante o Congresso de Evangelização Mundial, patrocinado por Billy Graham.

Fonte: www.caiofabio.com

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